Não podia deixar de manifestar a minha contrariedade sobre a apresentação do livro “Cabo-verdianas de Itália…”, onde a co-autora, Maria de Lourdes Jesus, sofreu duas censuras, ou lapsus?
A primeira na apresentação do programa publicado na página web da Universidade Jean Piaget, onde pela minha surpresa vejo escrito que a Universidade Jean Piaget vai fazer “a apresentação da obra Cabo-verdianas de Itália da professora Clara Silva”. Sim. É mesmo assim que estava escrito.
Só depois de duas mensagens, inclusiva a minha a contestar na pagina web, o meu nome foi inserido no seu lugar onde deveria estar. Até hoje, não recebi nenhuma mensagem por parte dessa Instituição por essa falha! Nada, nem sequer uma palavrinha de desculpa como fazem normalmente as pessoas civilizadas. Fico à espera porque trata-se também da imagem da nossa comunidade a que pertenço e com orgulho defendo.
A segunda omissão ou censura foi exercitada pelos organizadores do evento, Centro de Investigação, Relações Institucionais e Formação Avançada (CIRIFA) enquanto ninguém dessa organização me contactou até hoje.
Algumas considerações sobre essa triste história que nada tem de intelectual.
1. Apesar de ser co-autora, ninguém me envolveu na ideia de organizar essa apresentação em Cabo Verde. E devo dizer que não estava à espera que podia passar pela cabeça de alguém de organizar esse que deveria ser um grande evento, sem ter em conta o peso e o forte impacto em Cabo Verde e na diáspora, se na mesa da Universidade estivessem presentes as duas autoras do primeiro livro fruto da presença qualificada da nossa comunidade em Itália.
Um livro onde a mulher representa a figura central da nossa emigração, consciente do seu poder incontestável, porque resultado de uma grande luta, onde emergiu vitoriosa. Essa é uma das mensagens do livro. Não só. Lembro-me, e pensava que tinha ficado claro, que o livro deveria ser apresentado pela primeira vez em S. Nicolau, ilha das duas autoras, ilha das primeiras mulheres que instituíram a cadeia migratória para Itália, e que por isso tinha a prioridade em receber essas mensagens que retratam a vida laboriosa, vida de redenção, das suas filhas na Terra Longe. Não só. A nossa emigração para Itália é quase exclusivamente do grupo de Barlavento e, portanto, Santiago poderia esperar e dar prioridade a S. Nicolau.
2. Não sei quem está por trás desta apresentação. A meu ver, os organizadores não leram o livro e por isso não têm a mínima noção das mensagens que o livro pretende transmitir. Esse livro é sobretudo uma homenagem às mulheres de Cabo Verde que passaram por essa emigração para a Itália. Mas entre as pessoas que vão falar do livro no dia 29 (as instituições são uma outra historia. E’ muito importante que estejam presentes) não há ninguém na mesa que tenha competência especifica sobre a nossa emigração em Itália. Por qual motivo não foi convidado o Dr. João Lopes Filho, ou outras figuras de relevo especializadas nos estudos sobre a emigração?
3. Casta de apresentação é essa sem a presença de nenhuma das duas autoras? Nunca se viu uma coisa dessas. As autoras não estão na mesa e a única mulher que vai falar é à distância. E’ tudo muito estranho. Quem organizou não sabia que em Cabo Verde temos pessoas competentes (porque não basta viver na emigração para adquirir autoridade e competência para tratar desse assunto), como as mulheres que foram entrevistadas como Margarida Rocha, socióloga e cofundadora da OMCVI, e Gloria Silva, ex-deputada para Europa que deu também a sua contribuição nessa comunidade. Mais ainda. Maria Decrescência Mota, cofundadora da primeira associação cabo-verdiana em Itália grande combatente pelos direitos sindicais a favor da nossa comunidade, a professora Antónia Gomes e o mais conhecido (na nossa diáspora e em Cabo Verde) Hernâni Moreira, que foi presidente da mesma associação e promotor da cultura cabo-verdiana em Itália, coordenador do programa radiofónico para a nossa emigração.
Pessoas que mantiveram sempre uma relação privilegiada com a nossa comunidade em Itália. Seriam essas as pessoas que poderiam ser convidadas para apresentar e falar do livro, mas nenhuma delas estão no programa. Pergunto: qual urgência está por trás da apresentação do livro? Essa apresentação serve a quem? Quem vai ganhar com isso? Certamente não o livro, ou a Comunidade Cabo-verdiana, para a qual o livro foi escrito… Os organizadores faltaram de respeito também à nossa comunidade em Itália. Merecemos muito mais. Essa apresentação não faz justiça à imagem da nossa comunidade. Espero só que a mesma falta de respeito não se repita quando chegar o momento da apresentação em S. Nicolau, porque ninguém de facto ganha com isso.
Vou deixar aqui mais uma mensagem dirigida aos organizadores do evento. Por essas razoes que acabei de descrever, peço aos organizadores do Centro de Investigação, Relações Institucionais e Formação Avançada (CIRIFA), e à Universidade Jean Piaget, de suspender provisoriamente a apresentação do livro em questão até que este assunto seja devidamente esclarecida. Essa é uma ocasião para que essas duas instituições façam a justiça e pensar numa próxima apresentação do livro combinando com as autoras e a Casa editora.
Sei que não vai acontecer porque não tenho o poder de impedir essa apresentação, mas como co-autora não reconheço, não concordo e tão pouco autorizo a apresentação do livro nessas condições.
Quero também pedir às duas Instituições presentes e sobretudo ao Ministro das Comunidades que é uma instituição que tem como objectivo a promoção, o apoio, e a defesa da nossa diáspora, de tomarem em consideração que aqui está também em jogo a imagem da nossa diáspora, não só em Itália.
O Ministro das Comunidades e o Presidente da Camara da cidade da Praia não acharam estranha a ausência no programa das duas autoras? Perguntem aos organizadores por qual razão aceitaram de organizar e apresentar dessa forma desrespeitosa essa grande experiência migratória da nossa comunidade em Itália. Perguntem em meu nome e em nome de todas as mulheres que contribuíram, com a história de cada uma delas, a uma grande História da nossa emigração apresentada no livro.
Perguntem.
Maria de Lourdes Jesus