Carta ao sr. 1º ministro

Por: Nilton Sousa

Exmo. Sr. 1.º ministro, antes de mais devo apresentar-lhe os meus melhores cumprimentos.

Tomei a liberdade de escrever-lhe essas duas linhas e peço desde já desculpas pela minha ousadia. É que ando descontente. De fato ando cabisbaixo, triste com certas e determinadas situações que estão a acontecer no meu país, portanto, na nossa pátria amada. Ando amargurado porque a Exa. não me dá atenção. Isso enfurece-me, incomoda-me pois tenho sido atormentado com alguns problemas que teimam em não me desertar.

Ainda há dias, por pouco não me cortaram a luz. A Electra já se sabe que, para ceifar é um instante. Lá consegui remediar e os meus filhos puderam ver os bonecos. Ao menos assim eles ficam mais entretidos.

Estava então eu a salientar que, cada dia que passa estou mais perplexo com certas atitudes tomadas pela Exa. e pelos seus executivos. De fato essas medidas em nada me têm beneficiado. Titulares de cargos políticos querem aumento. Um pouco mais faz sempre bem ao bolso. Portanto, se aumentares as suas regalias estaremos cá nós para pagar.

Relativamente aos seus amigos, pois aqueles Niggas do BCV, esses mesmos, ouvi dizer que eles querem salários mais chorudos, mesmo jeitosos. Esses senhores que arduamente e firmemente estiveram na linha da frente, mostraram de fato a sua bravura. Com firmeza e incansavelmente lutaram sempre em nome da pátria. Estranhou-me o facto de lhes terem acrescentado dezoito por cento na conta. Uns míseros 18%. Uma pechincha Sr. 1.º ministro. Para mim era triplicar os seus salários assim num ato de magia. Pode ser que um dia desses o meu nome apareça na lista de gestores desse tal BCV. É que salários desses também eu queria.

Li por aí algures que um dos ensinamentos da Ciência Política é a de que a política é uma atividade de natureza competitiva e, por isso, fonte de competição, discórdia e de dissenso. Certamente devo concordar. Porém, quando é para ajudar a si e os seus, os CONSENSOS aparecem e as justificações mais velozes ainda.

Trabalho de sol a sol, levanto-me todos os santos dias logo pela manhãzinha e só ganho treze mil escudos. Esses miseráveis 13 mil escudos, como deve ser do conhecimento da Exa., nunca chegam. A corda está constantemente no pescoço. É renda, luz, água, alimentos para os garotos. Já não há matemática que me ajude com esses cálculos. Ainda, tenho que resolver outras questões, já sabe, como bom pai que sou, não posso fugir às responsabilidades. Como vê, ando desnorteado, mortificado, enfadado com tudo isso.

Já é sabido que, quando é para dar a si e aos seus é à vontade, o que me deixa estarrecido. Cada vez que oiço e vos vejo na TV sinto-me como um touro a entrar no matadouro. A minha cara fica pior do que quando recebo uma carta das finanças.

Vos escrevo na esperança de que possa olhar um pouco mais para mim Exa. Esqueça os ilustres deputados, esqueça os grandes gestores. Preocupe-se mais com os meus pois, os teus já estão acomodados.

Aos desempregados arranja-lhes um emprego decente, olha que já tinha sido prometido. Assinámos um compromisso, a Exa. não pode esquecer!  Aos velhos, dá-lhes uma pensão decente. Acredite sua Exa. só assim chegaremos a um entendimento.

Estou desiludido, mas não surpreendido. Acima de tudo estou determinado a continuar a labutar como tenho feito até então para que melhores dias possam chegar, pois, do jeito que está, não dá mais.

Espero que não leve a mal esta franqueza Sr. 1.º ministro. Estou certo de que voltaremos a falar.

Despeço-me reiterando os votos formulados inicialmente.

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