O Carnaval da ilha de São Vicente é, acima de tudo, uma celebração vibrante da cultura, da criatividade e da nossa identidade. Neste ano, como em todos, a atribuição dos prémios gerou debates, algo natural num espaço concorrencial onde todos os participantes são merecedores de reconhecimento. O júri, desta vez, aparenta ter sido mais consensual nas avaliações, embora, como é esperado, algumas discordâncias pontuais persistam. Isso reflete a complexidade de julgar expressões artísticas tão diversas e apaixonantes, cada uma com o seu brilho único.
Por: Nelson Faria
Por exemplo, na música, confesso que minha preferência recaiu sobre “Se Carnaval era gent”, uma composição que me tocou profundamente desde a primeira escuta, além de ser a mais popular, com destaque nas plataformas digitais. No entanto, reconheço, sem hesitar, a grandiosidade da obra apresentada pelo Cruzeiros do Norte. Sua música, superiormente concebida, integrou-se na perfeição com a bateria, demonstrando versatilidade, inovação e uma simbiose rara entre melodia e percussão, elementos essenciais para um Carnaval que procura evoluir sem perder a sua essência. Da mesma forma não concordei com o quinto lugar atribuído a Flores do Mindelo, mas, reconheço, tenho limitções nas competências de avaliação que ultrapassam a minha mera observação subjectiva.
É fundamental aceitar as decisões do júri com maturidade, valorizando o critério técnico e artístico que certamente empregaram. O Cruzeiros do Norte venceu por apresentar um desfile completo, repleto de detalhes impressionantes e uma concepção que exalava confiança de vencedores. Simultaneamente, é justo destacar o desempenho brilhante do Monte Sossego, que trouxe energia contagiante e uma narrativa compacta, tornando a disputa acirrada e emocionante. O que não cabe, porém, é a procura de justificativas externas ou envolver questões político-partidárias para desmerecer os resultados. O Carnaval é um espaço de arte, não de disputas partidárias.
O primeiro passo para crescer está na auto-reflexão, em identificar acertos, ajustar fragilidades e aprender com os concorrentes. Esta abordagem profissional fortalece grupos e artistas, preparando-os para regressarem ainda mais fortes. Quanto à tentativa de politizar o evento, compreendo que piadas e críticas sociais façam parte do repertório carnavalesco, afinal, o humor é tradição nesta ilha, a crítica social idem, mas é crucial delimitar que partidos políticos não têm lugar no Carnaval. Felizmente, a maioria entende isso. O evento transcende cores ideológicas, pois, é um património coletivo.
Sobre o Patcha, por ter recebido algumas mensagens deselegantes, não há necessidade de fazer advocacia em sua defesa. Sua trajetória fala por si, um líder resiliente, com méritos reconhecidos nacional e internacionalmente, que elevou o Monte Sossego e o Carnaval são-vicentino para patamares admiráveis. Além disso é uma pessoa espiritual e emocionalmente preparada para lidar com a vitória e a derrota de forma equilibrada. Contudo, é lamentável ver pessoas que, movidos por preferências partidárias, usam o evento para disseminar ódio, inveja e frustrações, em vez de celebrar a arte. Isso desvirtua o espírito do Carnaval, que deve unir, nunca dividir.
Encerro reforçando para que valorizemos o Carnaval d’Soncent como vitória de todos nós. Que as críticas sejam construtivas, as rivalidades saudáveis e os olhos voltados para o que nos une. São Vicente brilha quando sua cultura é celebrada com orgulho e respeito. Que o próximo Carnaval nos encontre ainda mais fortalecidos, focados naquilo que verdadeiramente importa: a arte, a alegria e a identidade que nos elevam, juntos, para outro patamar.