Iniciei a escrita deste texto com a informação de mais um assassinato bárbaro em São Vicente. Assassinato esse, aparentemente, ato continuo do ocorrido em janeiro deste ano. O alvoroço e o alarme social criado por mais esta situação não nos deixam tranquilos.
1.Naturalmente surgem questões: Até onde isto pode ir? Porquê da Polícia nada dizer sobre essas situações? Porquê não se vê e não se sente a atuação das forças de segurança nem sobre esses eventos e nem sobre as suas eventuais causas? Inaugurar esquadras, fazer cerimónias, adquirir viaturas, contratar pessoas nada resolvem se não houver ações efetivas, planeadas e concertadas estrategicamente para um “combate” sobre os males que nos assolam e colocam em causa a nossa segurança, o nosso sentimento de tranquilidade no país que se diz de “morabeza”, mas que, de seguro, hoje, é evidente a falácia.
2. Muito em foco nos dias que correm está a questão sobre os problemas sobre nos transportes aéreos com a saída da Bestfly do mercado com impacto a vários níveis, por exemplo, no adiamento do campeonato nacional de futebol. Num país arquipelágico com economia assente essencialmente no turismo, não ter essa disponibilidade é condenar a economia, a cidadania e a unidade do país a um fim “sukuro”. Independentemente da origem do problema, que vem dos sucessivos governos, facto é que o ora incumbente foi eleito também por dizer ter “solução” estruturante. Facto é, também, que o que se vê são um conjunto de experimentos mal sucedidos com consequências várias. Mal está o governo que acha que pode perpetuar ou piorar erros porque o anterior errou. Mal está o governo que passados oito anos ainda não se sente responsável pelas suas decisões e seus impactos. Mal está o governo que não percebeu que o que errou está na oposição exatamente por ter errado. Mal está o governo que não percebeu que o seu destino será a oposição se se mantiver no mesmo diapasão de ilusões, desresponsabilização, narrativas convenientes e jogos de interesses sem soluções estruturantes.
3. Causou-me estranheza por não saber se foi um problema de comunicação ou se é mesmo pura irresponsabilidade a comunicação de dois ministros. Logo após da saída anunciada da Bestfly, sem surpresas, ouvir dois Ministros com responsabilidades no sector a proferirem frases estapafúrdias. Um porque estava fora do país e não sabia do que se passava, mesmo que depois tenha emendado nas palavras e outro a dizer que a “culpa não é do governo” como que se houvesse outro decisor maior no sector. Meter a cabeça na areia e desresponsabilizar-se não é ato digno de governantes, pese embora, tendo a concordar que “a culpa”, de facto, nunca é do incompetente numa posição, mas sim de quem o lá colocou. Por isso, caros eleitores, libertem-se do fanatismo, da dependência e dos interesses pessoais e de grupos que levam a eleição e colocação de incompetentes. Mais racionalidade no voto, por favor. Pois, os partidos enquanto forças políticas, são em si organizações mortas sem as pessoas que as compõe, portanto, o que confere ou retira valor a qualquer força política são as pessoas que lá estão, os seus valores, responsabilidade inclusive, o seu carácter e a sua competência. A mim, o nome dos partidos pouco me diz, prefiro olhar para os atos das pessoas e da governação. É assim que defino o meu voto enquanto cidadão.
4. A governação local em São Vicente está aquém do que esta cidade precisa e do seu potencial. Sei que é “chover no molhado” dizer isto, mas é importante porque entramos na fase de possível mudança de um poder cristalizado e mumificado na mesmice. Chegamos no tempo das inaugurações oportunas, de um conjunto de eventos sedutores, do lançamento das primeiras pedras ou início de obras que podem durar de dois a três mandatos como os que ora se irão inaugurar e muitas mais ações convenientes. Sobre isto, é claro que é de se aproveitar o contexto eleitoral e as suas benesses, pois, se calhar, a única onde se sente a bondade do poder, contudo, uma vez mais, apelo ao voto consciente, racional e inteligentes para não perpetuarmos o “caminho sukuro” que vivemos por estas bandas.
O contexto mundial é de incertezas várias e volatilidades, pelo que a forma como nos governamos a nível central e a nível local são relevantes para sustermos os impactos que nos cabem. Para estarmos num caminho minimamente seguro nesta conjetura é sobremaneira relevante mantermos a lucidez sobre os atos de governação, a nossa realidade económica e social, como também usar da nossa racionalidade para escolhas inteligentes, porque senão o caminho vai continuar “sukuru”, episódio pós episódio, sem dia de amanhecer.