Por Mário Sanches
As empresas em geral e, particularmente, as ligadas ao setor do turismo estão a atravessar momentos difíceis e sem precedentes. Esta pandemia veio agravar a difícil situação que já muitas empresas se encontravam, visto que associado à escassez de tesouraria, veio a faturação zero.
O Estado, cumprindo a sua função e assumindo a sua responsabilidade, tomou medidas corajosas que, em abono da verdade, serviram para aliviar o sufoco das empresas, garantir a manutenção dos postos de trabalho e, consequente rendimento de milhares de famílias cabo-verdianas em tempos de crise pandémica. De entre as medidas podemos realçar a moratória de crédito, o lay-off simplificado, entre outros instrumentos criados pelo Governo e que acabaram por funcionar como uma almofada para as empresas.
Enquanto Presidente da Associação das Agências de Viagens e Turismo de Cabo Verde (AAVT), temos assistido às movimentações do Governo para criar estes instrumentos e ao esforço hercúleo das empresas para manterem as portas abertas, com os bancos comerciais a continuarem a anunciar lucros de milhões, lucros esses, construídos muito em parte sobre a pele destas mesmas empresas.
Exige-se, no mínimo, bom senso e equilíbrio. Não sou economista, mas é evidente que um sistema financeiro, forte, pujante e funcional é fundamental para o crescimento da economia, particularmente do sector privado. Neste momento é preciso um sistema financeiro funcional, um sistema gerador de crédito para atender à demanda das empresas e introduzir liquidez no mercado. Pelo contrário, continuamos a assistir a muita burocracia na análise dos pedidos de crédito, juros altíssimos, quando não existe garantias do estado, como se estivéssemos numa situação normal.
A situação é de grande incerteza. Nem os melhores experts arriscam previsões, já que a evolução da pandemia parece estar nas mãos de Deus. Porém, mais do que nunca as empresas precisam de liquidez e estas não conseguem contrair mais crédito, não obstante as associações empresariais desdobrarem-se em contactos e construírem propostas e soluções para acudir os seus associados, nem mesmo com aval do governo, que continua a procurar novos instrumentos de financiamento da economia, para fazer face a esta situação.
Tal cenário leva-nos a crer que uma das soluções passará pela criação de um Instituto de Fomento, com a fusão da Pró-empresa, Pró-Capital e Pró-Garante.
Enquanto isso, bancos comerciais continuam a ter centros de decisão fora de Cabo Verde, a laborarem de costas voltadas para as empresas, como que se o tecido empresarial que permitiu tal lucro estivesse fora de Cabo Verde.
Independentemente da responsabilidade social – que na nossa opinião os bancos comerciais devem ter em momentos como este – do papel do Estado e do regulador nesta matéria, das reformas que serão necessárias introduzir no sistema financeiro cabo-verdiano, a salvação é coletiva, pelo que não podemos ter bancos comerciais a anunciar lucros de milhões e empresas a declararem falência! Não será o momento de a banca retribuir à economia aquilo que a economia deu à banca?