Bajôf e Basôf, sô Blôf!

Desta nossa realidade as expressões bajôf, basôf e blóf (bluff escrito de acordo com o nosso pronunciamento) são recorrentes, até porque os nossos “artistas” do dia-a-dia não facilitam. Fui aprendendo que bajôf serve para qualificar um mentiroso compulsivo e descarado, autor de blóf largód, mentiras sem limites, enquanto basôf descreve uma pessoa bem-apresentada, boa pinta ou bem-trajado.  Com o basôf é pacífico, cada qual “mordê testa d’inveja” se o indivíduo sabe se apresentar e cativa atenções. O problema é com o bajôf e o seu leque de blóf. Piora se todos se unirem na mesma personagem.

Por: Nelson Faria

Verdade é que cada vez mais temos visto o basôf e bajôf na mesma pessoa.  O basôf- bajôf! As redes sociais estão cheias de fotos, vídeos e dizeres de personagens que se encaixam linearmente nesta descrição, sendo muitos pertencentes as classes de “pseudo-lideranças” que gravitam direta e indiretamente à volta da política. Sabendo o quão importante é a boa comunicação, seja quem que esfera for, o que vemos hoje é o envaidecimento da propaganda vazia.

No tocante ao sector político, nunca a propaganda enganosa foi mais fácil e visível, nunca o descerrar de placas foi mais propagandeado que obras feitas, nunca tantas fotos dos personagens se sobrepuseram às instituições que representam, sem contar que o objeto das comunicações tende a ser secundarizado perante a promoção da imagem dos basôf-bajôf. É tanta basofaria para aparentar o que não é e tanta bajofaria para enganar incautos “que nunca mais acaba”. Como diz um astuto amigo meu, conhecedor da realidade vivida, “nhe broda is moss ê sô blóf.” E, de facto, são. O importante, e que tem prevalecido, é a propaganda.

Mesmo nada havendo para assinalar, são criativos, mesmo não havendo nada para apresentar, inventam, mesmo não cumprindo o prometido, recriam, pois sabem que com a sua aparência basôf-bajôf e um blóf bem afiado conseguem levar na curva os seus seguidores e acólitos. Importante é aparentar que…O meu lamento é ver que persistimos em ter ainda muitos seguidores e acólitos sem senso crítico capaz de descortinar a bajofaria e o blóf, apesar da maioria, segundo o terceiro inquérito sobre a Governança, Paz e Segurança (GPS), realizado no último trimestre de 2023, indicar que cerca de 86% da população cabo-verdiana não acredita que os políticos respondem às necessidades e preocupações da população. Se a maioria não acredita, porque continua a seguir e a eleger o mesmo bajôf? Pois, há razões que ultrapassam o visível blóf.

Estamos todos sujeitos a nos enganar de quando em vez, venha de onde vier o bajôf ou o blóf, entretanto, o que não é cabível é perpetuarmos no engano com o(s) mesmo(os) “artista(s)” e com o mesmo blóf.  Mais, o que não faz sentido é eternizar o bajóf e o seu blóf como sendo verdades assentes em apenas narrativas convenientes. Óbvio que isso já não é da responsabilidade do charlatão, é de quem se deixa levar. Por isso, cabe também ao principal responsável, o eleitor, o cidadão, disciplinar a política de modo a extrair dela o que realmente satisfaz a todos, ou a maioria, com menos blóf, e não apenas deixa-la para o deleite de uma minoria que nem chega a 15% da população, conforme perceção evidenciada no inquérito GPS 2023. Assim, consequentemente, elevaríamos os níveis de satisfação com a democracia, baseada na verdade, e seria possível ver o suposto “o poder do povo para o povo” ser exercido com menos bajofaria e blóf.

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