Por: Américo Medina
Em curso na TACV um plano de reestruturação pago por nós os contribuintes com valores astronómicos, sem metas mensuráveis, sem projeção de lucros, sem limite de prejuízos; um plano que não define a dimensão requerida da empresa, nem define que negócios aviação e não-aviação serão incorporados ou excluídos; um plano que não demonstra a viabilidade e sustentabilidade a médio e longo prazo do que está sendo feito!
Em curso na TACV um simulacro de reestruturação que, ao contrário daquelas feitas pós-pandemia e noutras latitudes, envolve esforços dos contribuintes per-capita superiores ao que países mais ricos exigiram aos seus prósperos vassalos, mas que as reestruturadas já começaram a dar lucro e a devolver o capital investido pelos contribuintes; uma reestruturação em curso levada pelo UCS e pelo “Morto”, onde a única certeza que temos neste opaco e danoso processo é a de que quem tem o maior value at risk, quem assume o risco todo e de tudo, são os contribuintes…, sem direito a explicações!
Aos alemães, na reestruturação da LUFTHANSA, foi pedida uma partilha de risco, num processo transparente e planificado, com metas e objetivos estabelecidos e publicitados nos diversos órgãos de comunicação social, tudo claro e com métricas à disponibilidade de todos! Aos cabo-verdianos, com muito menos recursos do que os alemães, foi-nos e é-nos pedido um auto-de-fé e, per capita, pagamos mais do que os germânicos!
Entretanto, que resultados palpáveis temos, de concreto(?!): com a (re)nacionalização / reestruturação a nova Administração não conseguiu impor-se no mercado, operando apenas 1 destino por quase 2 anos, perdeu-se o lugar na IATA, perdeu-se o IOSA, perdeu-se o FAR129, perdeu-se o ETOPS, perdeu-se o TCO (por onde anda o inquérito mandado instaurar pelo Ministro “Pamonha”?) ; não se conseguiu renegociar as dividas com os credores, perderam-se slots; a TACV opera hoje com margens operacionais abaixo de 1%, com perdas incomportáveis que rondam os 80 dólares por bilhete, com ganhos de 2$USD por bilhete; a empresa continua a ser financiada apenas com recurso a crédito bancário e aval de Estado aumentando-se o já enorme passivo; continua mergulhada numa tempestade imparável de dívidas, atingindo patamares de endividamento incomportáveis que, mesmo operando com 100% de taxa de ocupação nas rotas existentes, não conseguiria gerar receitas suficientes para honrar os compromissos mensais; com uma dívida à banca de mais de 100 milhões de euros e um passivo insaneável; uma reputação abaixo de cão tinhoso sem pedigree, tendo como gestora uma aprendiz de benzedeira e que, se não for corrigido o rumo disto tudo, vai-se perder mais… – é esta a solução prometida pelo UCS? O “Morto” é capaz de homologar esse “relatório” que emana da gestão da Aprendiz de Benzedeira?
Tudo indica que corremos o risco de perder este nosso “orgulho” para os credores portugueses. O maior credor na Europa colocou há tempos sobre a mesa do “Morto” uma proposta de aquisição da TACV em troca das dívidas por cobrar.
A questão dos slots e a patética reação da aprendiz de Benzedeira
O acesso aeroportuário/Vaga/Slot (possibilidade de aterrar e decolar) é um recurso escasso limitado e é em função dessa constatação incontornável que o tema é tratado e precificado na indústria, convertendo o tema da gestão/alocação de slots/faixas de tempo/vagas nos aeroportos como um do mais relevantes e sensíveis no sector. Já tive oportunidade de dizer que, para certas companhias, o seu principal ativo não são as aeronaves, mas a quantidade e qualidade dos slots que têm e em que aeroportos os têm. Uma frota de luxo nada vale se a operadora não beneficiar de acordos e vagas que lhe permitam explorar de forma intensiva, profunda e abrangente a mesma frota nos diversos mercados do globo.
Sem vagas (slots/faixas de tempo), as companhias concorrentes não podem entrar num destino, nem aumentar as frequências caso já estejam a operar no mesmo e, os pretendentes a entrar pela primeira vez, enfrentam a falta de vaga/slots que é considerado no negócio uma das barreiras mais significativas para a expansão do negócio no sector aeronáutico. Apenas um pequeno número de slots/vagas é reservado para novos participantes. Isso dificulta a concorrência, promove a utilização ineficiente dos slots e contribui para o congestionamento.
Para o leitor perceber o interesse que se coloca nisso, podemos indicar exemplos de casos extremos em mercados muito competitivos em que uma dada companhia aérea realiza voos fantasmas sem passageiros, para atender e cumprir os requisitos/regras de uso que dentre muitas sobressai a de “use it or lose it”, para não perderem slots/vagas. Esta regra de “usar ou perder” causa muitos problemas e más práticas que não interessa explanar aqui, mas que estão na origem de slots retirados à TACV em 2018 no aeroporto de Lisboa, para serem alocados a outras operadoras e que acredito que, com a reestruturação dos slots que vem aí no mesmo aeroporto, mais slots serão retirados à operadora por via da regra “use it or lose it”!
Os slots são importantes, sim senhora, e têm muito valor! Nalguns mercados/destinos podem ser muito valiosos para as companhias aéreas. Por exemplo, a American Airlines pagou US$ 60 milhões por um par de slots da SAS no London Heathrow em 2015; a Oman Air pagou US$ 75 milhões por um par de slots em Londres Heathrow da Air France em 2016. Em 2004 o “The Guardian” fez uma pesquisa que demonstrou que os slots Heathrow da British Airways poderiam valer até £ 2,5 bilhões.
Wzh Services , Lda. empresa de informática acionou o tribunal, na ausência de ativos o Meretíssimo foi aos slots da TACV. O caso remonta ao ano de 2021 “Processo 25912/21.4T8LSB”, julgado pelo tribunal da comarca de Lisboa! Consta que houve uma ordem de arresto cumprida no primeiro trimestre de 2023 no edifício da TACV em Lisboa, e o que foi arrestado não cobria as dividas, pelo que foi feito este leilão de slots com uma oferta básica no valor da divida.
Mais perdas de slot virão devido a uma regra que na gestão e alocação de slots se chama de ”use ir or lose it”. A TACV por incapacidade de utilizar os slots que lhe foram atribuídos no AL vai ter que abrir mãos dos mesmos pois a ANA-VINCI vai restruturar os mesmos
A TACV, muito provavelmente irá enfrentar outros processos e, o anúncio da perda da marca tem a ver com a eventualidade de virmos a perder a companhia via um processo em curso nos tribunais em Lisboa em que os maiores credores, eventualmente poderão reclamar que a companhia lhes seja entregue para serem compensados das dívidas por cobrar.
Triste por várias razões mas, sobretudo, porque toda esta celeuma à volta do leilão de slots, foi desencadeada por causa de 250 Mil € num negócio de milhões e, não por um player do sector como a Boeing, a Airbus, VINCI, NAV, AENA Embraer ou SAFRAN…(!) – uma empresa de programas informáticos em Turcifal, Torres Vedras, Portugal!