Nelson Faria
A política é, antes de tudo, a arte e a prática de organizar a vida coletiva, na definição de regras de convívio comum, na distribuição de recursos, na proteção dos direitos, na gestão dos bens públicos e criação de condições para que as pessoas possam conviver, trabalhar e desenvolver-se. Sem política, entendida como ação pública responsável e necessária, as sociedades ficam à mercê do improviso, do poder informal e das soluções fragmentadas que não atendem ao bem-comum, da anarquia.
Muitos cidadãos, desencantados com os partidos, afirmam: “Não gosto de política” ou “Não quero saber de política”. Que erro! Na realidade, o que rejeitam é, muitas vezes, a política partidária, os seus conflitos, as suas falhas, os seus símbolos.
Ao fazerem esta confusão, afastam-se da responsabilidade coletiva de construir a sociedade. A verdadeira intervenção política começa exatamente por perceber esta diferença, a de que podemos e devemos ser ativos na política (na vida da cidade e da comunidade) sem necessariamente pertencer a um partido, mas não podemos ignorar o papel que os partidos desempenham.
Os partidos políticos são ferramentas necessárias para a democracia representativa. Eles agregam visões de desenvolvimento e de soluções coletivas, propostas governativas e canalizam a participação popular, pois, também são constituídos por cidadãos da comunidade que pretendem governar. No entanto, é crucial entender que um partido não se resume ao seu logótipo, a sua cor ou ao rótulo criado em função das conveniências.
A existência de partidos é igualmente necessária dentro dos sistemas democráticos, mas esses partidos só valem pelo seu conteúdo humano e programático, não pelos símbolos. Os partidos são as pessoas, os militantes, os simpatizantes, os candidatos. O seu carácter, a sua honestidade e a sua competência. Os partidos são, ou deveriam ser, os seus valores e princípios, as ideias fundamentais que defendem, e os seus projetos, as propostas concretas para a educação, a saúde, transportes, habitação, a economia e o futuro da localidade e do país. Por isso, na hora de escolher, o cidadão responsável deve olhar para além da bandeira partidária. A pergunta-chave não é apenas “Qual é o partido?”, mas “Quem são as pessoas? Quais as suas competências? Qual é o projeto? E qual a sua capacidade real de o executar?” Também, “qual a esperança, qual a confiança que tenho em determinada força política para corresponder aos anseios
coletivos?”
A política partidária só é benéfica para a “boa política” quando se concentra no que é substantivo. O que verdadeiramente importa é a qualidade das lideranças, a viabilidade dos projetos e, acima de tudo, a capacidade de realização. Promessas eleitorais são comuns, entregar resultados concretos que melhorem a vida das pessoas é o que distingue uma gestão competente de uma gestão falhada. A política é indispensável para organizar sociedades justas e funcionais.
A democracia é um sistema que prevê a sua própria correção. Quando um partido ou uma coligação
governa de forma incompetente, com sinais claros de desgaste, corrupção ou incapacidade de inovar, a solução democrática não é a rotulagem, culpabilização eterna e genérica de “todos os políticos ou partidos”. Essa atitude, por vezes injusta, leva a uma desconfiança e medo permanentes do novo, do futuro, o que pode levar a violência verbal, física e comprometer a paz social e o bem-estar coletivo.
A forma responsável e prática de os cidadãos exercerem a “boa política” que tanto anseiam é usar o voto para substituir quem não serve e exigir dos eleitos a concretização das propostas apresentadas, assim como capacidade efetiva de resolver de forma transparente os problemas sociais que surjam ao longo do período de governação. Rotatividade no poder é sinal de saúde democrática. Significa dar oportunidades a novas pessoas, a novas ideias e a novos projetos. Em vez de se queixarem eternamente de um governo ineficaz, os cidadãos têm, nas eleições, o poder de promover uma alternância pacífica que revitalize a esperança e a ação governativa.
A política é necessária e todos somos seus agentes. Rejeitar a política por reação aos maus políticos é
abdicar do próprio poder de mudar. Participar com consciência é, ao contrário, a forma mais eficaz de traduzir os anseios coletivos em políticas concretas. É assim que se constrói, dia a dia, a boa política que todos desejamos ver. Devemos distinguir a participação cívica ampla da política partidária, sem desvalorizar a importância desta última.
Ao avaliarmos os partidos, foquemo-nos nas pessoas, nos valores e na capacidade de execução, e não nos símbolos. E, principalmente, lembremo-nos de que a maior ferramenta para uma boa política está nas nossas mãos: a capacidade de, em consciência, reconhecer o trabalho bem-feito e, quando necessário, substituir de forma civilizada quem já demonstrou não estar à altura dos desafios coletivos. É assim que, na prática, construímos a sociedade que desejamos.