A inquietude sobre a perda do poder de compra…

A minha grande inquietude neste momento é o poder de compra. Melhor, a redução significativa do poder de compra muito justificado pela inflação galopante e contínua de há três anos a esta parte.

Por: Nelson Faria

Se por um lado é bom sinal que os lucros das empresas estão em níveis altos, recordes em alguns casos, que o crescimento económico do país é factível, que o Tesouro arrecada mais em impostos, o que demonstra que a economia deveras tem recuperado após o choque da COVID-19 e outras condicionantes que ainda vivemos, é igualmente verdade que isto tudo tem sido obtido muito à custa da perda do poder de compra dos consumidores. Nem diria que é das camadas desfavorecidas ou de rendimentos baixos porque sabemos desde há muito que têm o poder de compra limitado, já que o salário mínimo nacional não chega a 70% do mínimo essencial que um único indivíduo saudável necessita para despesas.

Quem, da considerada “classe média” do país, não sente hoje que os seus rendimentos já não são o que eram e não lhe permitem o mesmo nível de consumo? Quantos já não entram nas superfícies comerciais com a dúvida de quantos mil vai pagar para uma simples compra de fim de semana, e nem digo do mês? Pois é, não está fácil para os consumidores, independentemente dos rendimentos.

Não entrando em questões éticas da relação entre a organização seus clientes e trabalhadores que envolvem a qualidade de serviço esperada e o bom tratamento dos colaboradores para se chegar aos lucros apresentados, cingindo-me a questão preços, pergunto: é justo e moral que verifiquemos estes anúncios de lucros, de crescimento económico, de arrecadação de impostos sem que os consumidores, os que fazem os lucros acontecer, tenham aumentos que possam minimamente permitir a continuidade do consumo?

A teoria económica explica que o aumento de salários em determinados contextos pode ser causador da inflação ou levar a sua continuidade e aumento, da mesma forma explica que sem consumidores com poder de compra não há economia funcional, ou não se verificarão crescimentos consideráveis já que o consumo é fator determinante. Não sei se no nível a que chegamos os lucros propalados por algumas empresas este ano não sofrerão um revés nos próximos tempos pelo simples facto da perda do poder de compra dos clientes / consumidores, pois, os rendimentos mantiveram-se praticamente sem alterações comparativamente ao nível pré-pandemia, permitindo hoje, em boa parte dos casos, apenas o consumo do essencial.

Portanto, naturalmente, a questão é: para quando aumentos salariais que permitam, de facto, minimizar os efeitos da inflação verificada nos últimos três anos com impacto na perda do poder de compra? Creio que seria para ontem, mas vale para hoje porque amanhã pode ser tarde quer para economia quer para a paz social. Espero que aconteça nos próximos tempos, nem que seja para servir o propósito eleitoralista que aí vem.

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