Por: Frei Silvino Benneti
Queremos propor uma leitura sobre a intervenção da deputada Mircéa Delgado que, nessa altura, votou contra aos ditames do próprio partido. Com esse gesto, que para muitos foi motivo de critica, a deputada expressou um aspeto fundamental do dialogo político que é o direito (e dever) de honestamente expressar a própria opinião.
Deixamos passar um tempo desde a sessão parlamentar onde foi apresentado e discutido o estatuo especial da Cidade da Praia, esperando assim, não dar ocasião a mais polemicas mas, eventualmente, dar início a uma reflexão.
Queremos propor uma leitura sobre a intervenção da deputada Mircéa Delgado que, nessa altura, votou contra aos ditames do próprio partido. Com esse gesto, que para muitos foi motivo de critica, a deputada expressou um aspeto fundamental do diálogo político que é o direito (e dever) de honestamente expressar a própria opinião.
Entendemos que o diálogo parlamentar não é construído simplesmente no confronto entre grupos partidários, mas antes no confronto entre pessoas, que, por “dar cara”, também assumem as consequências com toda a própria pessoa e portanto na plenitude da própria consciência. Próprio por ser assumida conforme consciência uma opinião merece respeito mesmo quando estiver em erro. A consciência expõe a pessoa e ao mesmo tempo é sua defesa. A política deve defender a consciência porque só a partir dela se obtém um dialogo construtivo!
Um partido tem de ter uma linha partidária, mas é a própria consciência das pessoas que purifica ou afina essa sua linha partidária. Portanto, se o políitico sente que a sua consciência não adere tem direito, liberdade e dever de manifestar-se de forma diferente. O diálogo parlamentar representa o diálogo do povo, mas se no parlamento só se expressam como grupos perde-se o horizonte do bem comum, o diálogo se transforma em conflito que estender-se-á nos mesmos moldes a todo o povo.
Se abafarmos a consciência dum politico esse transforma-se num interesseiro e trabalhará exigindo condições e pedindo recompensas extras
O que nos une não são as cores partidárias, mas o bem comum dado em primeiro lugar pelas boas relações que intercorrem entre nós, em todos os níveis da sociedade, e nas quais criam os nossos filhos. Um político tem de ter claros esses valores e pô-los como objetivos da própria pessoa antes de qualquer linha política. E, para conseguir isso, necessita de ser acompanhado pela própria consciência.
Se abafarmos a consciência dum politico esse transforma-se num interesseiro e trabalhará exigindo condições e pedindo recompensas extras e no entanto o seu trabalho só poderá trazer (alguns e provisórios) benefício material no lugar dos benefícios sociais e humanos dos quais maiormente necessita a nossa “polis”. A consciência é “instrumento comum” tanto do politico como do cidadão e é próprio falando em consciência que o dialogo proposto pelo politico pode realizar-se com qualquer um e a qualquer nível da sociedade. É a partir do dialogo em consciência que o politico constrói as politicas e as forças para leva-las em frente.
Necessitamos dos partidos não para satisfazer os interesses de partes diferentes, mas para que essas partes ponham a própria, diferente, experiência ao serviço do alcance do bem comum do qual todas as partes vivem. A criação de partidos começa pela compreensão que a complexidade da realidade ultrapassa a cada um e não leva à rivalidade mas ao relacionamento humilde que se manifesta expressando a necessidade de pedir opinião ao outro.
Dizia o filosofo Aristóteles que a politica é a arte mais nobre e o Papa Paulo VI disse que a politica é a forma mais alta para fazer caridade. Seja a arte como a caridade se realizam gratuitamente porque realizam-se transmitindo, ou dando, e não recebendo. O politico, próprio a partir da sua experiencia, entende que é só com espirito gratuito que se alcançam sucessos políticos. O politico que trabalha com consciência deposita nela os seu sucessos e amarguras e não corre o risco de perder a si mesmo!
Mindelo 21.09.2020