Nelson Faria
“…Cred, oh Crist pai d’cristom
Cada dsimparod ba p’longe d’mim
Sis lenga lenga jam conchel…”
Esta é parte de uma música cantada por Bana e que se aplica à circunstância, sendo ignorância minha o desconhecimento do autor.
50 Anos de Independência em São Vicente em tons de vazio e conveniências?
As celebrações dos 50 anos da independência em São Vicente, um momento que deveria ter assinaladas a independência e autodeterminação do país, com a vénia que merecem, não teve oradores à altura nas autoridades nacionais. Dos discursos, valeu a lucidez o Embaixador de Portugal em Cabo Verde.
Não bastasse o silêncio ensurdecedor sobre Amilcar Cabral, os discursos oficiais brilharam como fogos-de-artifício de plástico: pomposos, barulhentos, colorido, e completamente vazios de significado.
Na minha perspectiva, um espetáculo de mesquinhez política! Os discursos deveriam ser adequados ao momento e contexto, mas, não. Nenhuma menção à história, aos erros, às conquistas reais, apenas um desfile de clichês tão batidos que até o microfone parecia estar cansado.
E pensar que, em vez de contextualizar meio século de independência, preferiram transformar o palanque em vitrine de vaidades convenientes. Fizeram parecer como se a Independência tivesse caído do céu, empacotada em papel de presente pelos colonizadores arrependidos. Amilcar Cabral? Quem é esse? Afinal, para quê lembrar a história se se pode elogiar a si mesmo com frases de efeito e promessas de asfaltar a Lua até 2030?
O mais irónico é que, o povo carrega a memória nas costas, com seus méritos, deméritos e cicatrizes, os donos do poder parecem ter apagado a história que não lhes convém. “Vivemos o presente com olhos no futuro!”, proclamam, como se o passado fosse um parente inconveniente a ser escondido num baile qualquer.
Felizmente, em São Vicente nem todos se alinham com “Bói” e fogo-de-artifício como anestesia. Não, não é remédio santo nem anestesia para tudo e para todos… Não faltaram, foram fiéis à proposta, pois, estouraram, iluminaram o céu por alguns minutos e viraram fumaça. Metáfora perfeita para discursos que, em vez de acender a chama da reflexão, preferiram o brilho efêmero do marketing político.
Terminado o evento oficial, o que restou foi a sensação de que 50 anos de independência viraram pano de fundo para egos inflados e agendas particulares. Enquanto isso, Amilcar Cabral continua de lado, talvez rindo de amargura em algum lugar do universo, pensando: “Afinal, independência de quê? Das próprias ideias?”.
Todavia, não desanimemos! A história, essa teimosa, resiste aos discursos vazios. E o povo, esse sim, sabe que o futuro só se constrói quando não se tem medo de olhar para trás, mesmo que as autoridades prefiram seguir “sem djobi pa lado”, quanto mais para trás, e usar o retrovisor apenas para ajustar a gravata. Valeu o Jorge Humberto, vale sempre.