Treinador da seleção da Roménia, “Tchabass” Tavares quer usar a sua vasta experiência para elevar o nível do Karaté cabo-verdiano

O mestre Sabino Tavares está disposto a usar a sua vasta experiência no domínio do Karaté em arbitragem, técnicas e organização de provas para elevar o patamar desta arte marcial em Cabo Verde. Graduado 8. dan, Tchabass, como é conhecido em S. Vicente, traçou como meta colocar o Karaté cabo-verdiano a, pelo menos, 50% do nível praticado actualmente na Europa, no espaço de poucos anos.

“O Karaté evoluiu de tal forma na Europa que agora é mais forte que o do próprio Japão e norte-americano”, ilustra o treinador da seleção da Roménia, que já conquistou vários títulos mundiais e europeus nesta função.

Para atingir a meta traçada, Tchabass planeia criar um núcleo de trabalho com os professores mais experientes residentes em Cabo Verde, como os sênseis Bebeto, Pirass, Palau, André Mota, Dionísio… O plano passa pela realização de dois a três estágios por ano na Roménia com os referidos treinadores, cabendo-lhes depois a responsabilidade de disseminar os conhecimentos a nível nacional.

Para este membro da Federação Europeia de Wadokai, este trabalho interno é fundamental porque, explica, os alunos acabam por apreender os erros dos professores. Aliás, afirma que viu muitas falhas técnicas no exame de sete professores de Karaté para o 2. e 3. dan realizado na ilha de Santo Antão. Tchabass, que acompanhou de perto o campeonato nacional da modalidade, notou ainda uma série de erros nos alunos, situação que, para ele, reflete o que aprenderam com os mentores.

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Considerado uma autoridade desportiva na Europa, Thabass entende que, se C. Verde quer um Karaté competitivo e de qualidade, precisa encetar algumas mudanças internas. A primeira, na sua opinião, passa pela criação de um Regulamento que respeite as regras internacionais da modalidade. Uma vez aprovado o documento, o passo seguinte seria lançar um website onde tudo ficaria disponível para qualquer interessado. “É preciso haver transparência total com a publicação de todas as informações nessa página oficial da Federação Cabo-verdiana de Karaté”, frisa este ex-aluno do seu tio Luís “Karaté” Fortes e de Abe Kenshiro, mestre japonês que ministrou aulas do estilo Wado Ryu em S. Vicente na década de setenta. Até o final deste ano, Tchabass espera ter a primeira versão do Regulamento pronta.

Na sua perspectiva, é preciso dar uma atenção particular à organização para as coisas entrarem nos eixos em Cabo Verde. Neste campo, este vice-Presidente Técnico da Federação Europeia de Wadokai e da Federação Mundial de Shotokan pretende colocar ao serviço de C. Verde o seu vasto conhecimento nas artes marciais. Ele que já organizou várias competições internacionais na Europa, uma delas com a presença dos mestres Joe Pina e Emanuel Bettencourt, está disponível para ajudar a Federação Cabo-verdiana de Karaté a arrumar a casa de vez.

Neste sentido, considera fundamental C. Verde decidir por uma linha de examinação do Karaté para clarificar as regras. “Podemos escolher o Budokai, Wadokai, Shito Ryu, Wado Ryu ou outra linha, mas que isto fique claro. Não é cada escola ter a sua forma de fazer um Kata, com movimentos que não existem. Vi isso no campeonato nacional em Santo Antão e disse-lhes claramente que precisamos parar com essas práticas”, revela o mestre, que, nesta matéria, atira também as culpas para cima da Direção Técnica da FCK.

Responsável por 84 clubes de Karaté na Roménia, além de treinar policiais de elite para proteção de figuras públicas neste país do leste europeu, Tchabass quer incutir uma visão profissional na modalidade em C. Verde. Este empenho, esclarece, é o cumprimento de uma promessa que fez no dia do funeral do seu tio Luís Fortes, uma das principais referências do Karaté cabo-verdiano. Aliás, afirma que foi sempre pressionado por este malogrado artista marcial, que lhe obrigou a aprender o Karaté na sua adolescência, para ajudar C. Verde a alcançar um patamar mais elevado.

Ao longo do tempo, Tchabass tem feito várias ações nesse sentido. Por exemplo, promoveu a graduação de antigos colegas e do próprio mestre Abê Kenshiro e indicou o sensei André Mota para substituí-lo na direção da Federação Mundial de Shotokan para a zona da África.

Tchabass quer cumprir a promessa feita ao tio Luís Fortes, mas sente que este trabalho será árduo. E vai deixando claro que estará disposto a dar o seu contributo se ver reciprocidade da parte dos professores residentes em C. Verde e principalmente da Federação Cabo-verdiana de Karaté. Ele que se mostra crítico em relação a uma prática em C. Verde, que é o facto de as despesas de deslocação e de estadia nas provas nacionais serem suportadas pela federação. A seu ver, isto está errado. “É inadmissível a FCK pagar tantas despesas só para os alunos e seus professores estarem no nacional. Para mim isto prova que o pessoal está cheio de dinheiro porque isto não acontece em mais nenhum país do mundo”, critica o shiran.

Noutras paragens, segundo esta fonte, apenas os alunos em condições de serem convocados para as seleções é que usufruem de um tratamento privilegiado. Os restantes são obrigados a assumirem o pagamento pelos treinos e a participação nas provas e exames. Na perspectiva deste treinador, se C. Verde manter essa prática o seu desporto ficará estagnado porque os alunos vão ficar habituados a encontrar tudo de borla, o que não é salutar.

FCK aberta a aproveitar boa-vontade do mestre Tchabass

A Federação Cabo-verdiana de Karaté está aberta a aproveitar a pronta colaboração do shiran Sabino Tavares ao nível da organização, técnicas e arbitragem. Para a presidente Alcinda Lima, esta atitude é louvável e não pode ser desperdiçada, até porque, diz, Tchabass pode abrir muitas portas a C. Verde a nível internacional.

“Estamos a falar de um cabo-verdiano que conhece a fundo os bastidores das artes marciais a nível mundial e jamais poderíamos desperdiçar uma oportunidade destas”, frisa a dirigente desportiva, que concorda que a primeira medida será actualizar o Regulamento da FCK, que nunca foi mexido desde a criação da referida federação.

“A falta de um regulamento actualizado é um dos nossos pontos fracos”, reconhece Alcinda Lima, que atribui a ocorrência de alguns episódios negativos no seio da modalidade exatamente a esse aspecto. Enfatiza que uma das suas promessas de campanha para o cargo foi melhorar o funcionamento do Karaté e considera imprescindível começar por uma melhoria desse documento.

Segundo Alcinda Lima, a FCK vai ter de saber trabalhar à distância com Tchabass, que reside na Roménia. Assume a necessidade de o organismo se adaptar a esse desafio sob pena de perder uma oportunidade ímpar.

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