A etapa Beach Pro Tour – Futures, marcada para 11 a 14 de dezembro na praia da Lajinha, já bateu o recorde mundial de inscrição de equipas, mas a organização está atolada em entraves logísticos devido ao atraso na resposta dos potenciais patrocinadores. A um mês da prova, Micau Graça, responsável pela organização, começa a sentir pressão devido ao silêncio das empresas e instituições abordadas para patrocinarem este inédito acontecimento na história desportiva de Cabo Verde, que, diz, está na “boca do mundo”.
“A nossa preocupação neste momento é que as coisas comecem a andar com passos mais céleres e seguros porque, na fase em que estamos, a um mês do torneio, não podemos desistir, sob pena de esta medida vir afectar gravemente a imagem de Cabo Verde. Esta competição está na boca do mundo, mas as pessoas ainda não tomaram consciência da sua real importância”, diz Micau Graça, que destaca o ritmo de inscrição das duplas masculinas (48) e femininas (27) pelas federações dos diversos países europeus, africanos, asiáticos e americanos.
Até este momento, a organização já tem assegurado apenas o apoio da Câmara de S. Vicente – que vai construir as infraestruturas físicas na praia, como os campos de jogos e de aquecimento e bancadas – e da Enapor, que garantiu o tratamento da areia. Da parte do Ministério do Desporto e da Juventude, por exemplo, ainda não há novidades concretas, segundo Micau Graça, que não sabe explicar o motivo desse atraso.
“O nosso problema é sobretudo financeiro. Precisamos de dinheiro para realizarmos despesas imediatas. Temos efectuado contactos directos, enviado emails e feito telefonemas, mas nada acontece”, lamenta Micau Graça, que mesmo assim mostra-se decidido a continuar empenhado em realizar o sonho de ver o areal da Lajinha palco desse torneio mundial de voleibol de praia. A sua esperança é que as coisas mudem de rumo na próxima semana.
“Já devíamos ter o ´estaleiro´ da prova montado”
O estágio preparativo do circuito foi avaliado pelo supervisor cabo-verdiano António Rodrigues, 1. Vice-presidente da Confederação Africana de Voleibol, que não escondeu a sua preocupação sobre o ritmo da organização desse importante evento desportivo numa abordagem com a comunicação social. Na sua avaliação, o processo está “muito atrasado”, tendo em conta o tempo que falta para o arranque da competição e tendo em conta que várias seleções vão chegar com 3 dias de antecedência. “Apesar do empenho do sr. Amílcar Graça, há ainda muita coisa urgente a ser feita. Sei que ele abordou várias instituições e eu mesmo estive num encontro realizado com o ministro do Desporto, mas a verdade é que as coisas não estão a andar ao ritmo desejado”, salienta esse técnico indicado pela FIVB.
Pedido para ser mais específico, o actual Presidente da Federação Cabo-verdiana de Voleibol explica que neste momento a organização já devia estar com um escritório aberto, colocado um website online para divulgação de informações e publicidade da prova, ter a lista dos patrocinadores oficiais, cujos logos serão inseridos nos equipamentos usados por todos os atletas… “Resumidamente, falta montar o ´estaleiro´, como diria o construtor de uma grande obra”, ilustra Rodrigues. O supervisor salienta que a qualquer momento Cabo Verde pode receber a visita de importantes membros da FIVB, para apurarem o nível dos preparativos, e não encontrarem nada palpável. E a primeira coisa que vão fazer, diz, é procurar o escritório da prova.
Enquanto supervisor, Rodrigues vai ter que enviar um relatório para a FIVB na próxima semana sobre o estágio dos preparativos. Rodrigues adianta que vai ser o mais brando possível no documento, tal como fez nos casos de Marrocos e Botswana quando organizaram a prova pela primeira vez, e pedir aos membros da referida federação para adiarem alguns dias a vinda a Cabo Verde, ciente de que as coisas vão mudar de figura.
“A prova não está em causa porque somos flexiveis e Cabo Verde tem uma imagem internacional de país sério e organizado. E vamos continuar empenhados para que tudo entre nos trilhos”, assegura Rodrigues, uma voz importante no cenário internacional do voleibol e que indicou a praia da Lajinha como palco da prova, após desistência da Nigéria, um dos quatro países africanos que já chegou a organizar esta etapa.
Tal como Micau Graça, o supervisor cabo-verdiano mostra-se convencido de que as instituições, empresas e o próprio público cabo-verdiano ainda não acordaram para a verdadeira amplitude desse torneio mundial. “Para as pessoas terem uma noção, vou falar em termos futebolísticos: é como recebermos uma prova da Euroliga”, compara Rodrigues, que está a almejar o sucesso desta etapa para Cabo Verde poder acolher também o campeonato mundial de voleibol de praia. A acontecer, diz, seria como o arquipélago receber agora o torneio europeu de futebol e ser palco da Copa do Mundo em 2026.
António Rodrigues reforça que a Beach Pro Tour – Futures é uma etapa importante para as duplas conquistarem pontos visando o apuramento para o Mundial. Sublinha que este evento pode trazer quase 200 pessoas para a cidade do Mindelo durante uma semana. Os jogadores e os respectivos staff técnicos, sublinha, é que pagam as suas despesas de alojamento, alimentação e transporte, o que vai dinalizar a economia de S. Vicente.
