A polémica continua a ensombrar as provas nacionais na modalidade de andebol, com a região de S. Vicente posicionando-se frontalmente contra a forma como a federação da modalidade vem fazendo a sua gestão na presente temporada. Após a ausência do Atlético e do Amarante no campeonato feminino, agora a discórdia instalou-se no campo masculino, com tudo apontando para a realização do campeonato nacional sem a presença do campeão regional, que ainda sequer foi apurado.
O Atlético e a Académica estão ainda a disputar o título regional e este sábado, 24, acontece o quinto jogo dos play-off, ou seja, a partida decisiva. Entretanto, o campeonato nacional arranca na próxima segunda-feira, 26, na ilha da Boa Vista, e a FCA chegou a solicitar o nome da equipa representante de S. Vicente até ao dia 20.
Para a Federação Cabo-verdiana de Andebol parece seguro que S. Vicente vai ficar de fora da prova. Num comunicado publicado no Facebook, a FCA afirma categoricamente que as equipas mindelenses recusam participar na competição. “O Atlético alega que não aceita viajar de barco; a Académica diz que não tem meios financeiros para arcar despesas”, justifica. Abordados pela reportagem do Mindelinsite, Aquilino Fortes, treinador do Atlético do Mindelo, confirma essa decisão, enquanto Cátia Brito, técnica da Micá, nega essa informação.
Aquilino Fortes afirma que desde o ano passado deixou clara essa decisão depois das dificuldades que os atletas enfrentaram na viagem de barco para a ilha de Santiago e o esforço financeiro arcado com as despesas referentes à alimentação da comitiva durante a estadia na Cidade da Praia. “Deixamos claro que é preciso passar a respeitar o esforço dos atletas e dos clubes. Não concordamos que numa modalidade como o andebol continuemos a repassar para os atletas todos os sacrifícios”, alega o técnico. Para ele, é inconcebível que os clubes continuem a assumir a despesa de alimentação ou de estadia e ainda obrigar os jogadores a viajar de barco, depois do esforço titânico que fazem para suportarem as cargas físicas, emocionais e encargos financeiros de uma temporada.
“Durante a época suportamos despesas com equipamentos, bolas, resina, energia eléctrica, etc., sem contar com as lesões e sobrecarga emocional, e ainda querem que viajemos de barco para um campeonato nacional. Discordamos e deixamos clara a nossa posição no ano passado”, reforça Aquilino Fortes.
Para ele, a FCA está a submeter os andebolistas a um esforço desumano quando os obriga a viajar de barco. Além do cansaço típico desse tipo de viagem, lembra que há sempre a possibilidade de o navio sofrer uma avaria e ficar retido. “Perguntamos: quem vai assumir as despesas da estadia dos atletas numa ilha a meio percurso? Se um jogador ou dirigente ficar doente por causa do esforço da viagem o que a FCA vai fazer? E se alguém perder o seu emprego, quem se responsabiliza por esse dano?”, questiona Aquilino Fortes.
O técnico afirma que o andebol é a única modalidade onde as equipas assumem a despesa de alimentação e ainda são obrigadas a viajar de barco para poderem disputar o título nacional. Aquilino Fortes diz respeitar quem concorde com essa norma, mas acha que já é tempo de se virar o jogo. Até porque, diz, a FCA concede todas as condições às seleções sub20, sub21 e seniores masculino e feminino nas provas internacionais. “Aceita todos os convites para a participação de Cabo Verde em torneios internacionais, entretanto vem dizer aos clubes que não tem dinheiro para arcar com todos os custos do campeonato nacional. Isto não faz sentido”, considera.
Questionado se a postura do Atlético é um gesto de solidariedade com as equipas femininas de S. Vicente que negaram competir no nacional, Aquilino Fortes responde que pode ser vista nesse prisma. Para ele, trata-se também de um acto de respeito pela posição das equipas femininas do Atlético e do Amarante.
Por sua vez, Cátia Brito estranhou o comunicado da FCA sobre a alegada ausência da Académica do Mindelo no campeonato nacional. Segundo a treinadora, em nenhum momento a Micá divulgou essa informação nos emails trocados com a Associação de Andebol de S. Vicente sobre o assunto, por isso questiona de onde a FCA tirou essa conclusão.
“Ainda a Académica não tem uma posição sobre o campeonato nacional, até porque continuamos a disputar o título regional. Ninguém sabe quem será o campeão de S. Vicente porque falta-nos mais um jogo. Consideramos que é preciso primeiro deixar terminar a prova regional para depois dizermos se podemos ou não ir para o nacional mediante as condições propostas pela federação”, enfatiza Cátia Brito. A treinadora sublinha, entretanto, que a Académica do Mindelo mantém a mesma decisão tomada pelo escalão feminino, segunda a qual não se pode saltar etapas do regional devido a pressão da FCA. Sublinha ainda que a ARASV traçou uma meta, que era do conhecimento da federação, e que deve ser atingida a nível regional.
A equipa técnica da Académica já agendou um encontro com a direção do clube, mas que só irá acontecer depois do quinto jogo dos play-off. O item “campeonato nacional” será discutido, segundo Cátia Brito, se a equipa ganhar o regional de S. Vicente.
O Mindelinsite tentou abordar a FCA sobre o caso, mas foi impossível chegar à conversa com o presidente. Entretanto, outro dirigente ficou de entrar em contacto com o nosso jornal assim que ficar a par de todas as informações sobre o campeonato nacional, que começa na segunda-feira na ilha da Boa Vista.