Os amigos Luis Graça e Albertino Martins são unidos pela docência, pelo amor ao futebol, ao clube Mindelense, mas separados pelo campeonato português. Luis é portista, actual campeão luso, enquanto Albertino, que torce pelo Benfica, pode ser a partir de amanhã o campeão da época. O clube da luz está na liderança isolado na tabela classificativa, bastando-lhe um empate para levantar o troféu referente a época 2018/2019.
O 37° título do Benfica é um facto garantido para Albertino Martins, já que, para a entrevista, fez questão de ostentar a camisola comprada para o festejo na Praça Nova. “Vamos ganhar por 4×0 frente ao Santa Clara, enquanto que o Porto vai empatar com o Sporting por 1 bola”, faz Albertino o seu prognóstico.
Por seu lado, Luis acredita numa reviravolta neste último jogo do campeonato. “‘Futebol ê féma’ por isso acredito na reviravolta mesmo que as probabilidade sejam escassas”, diz. No seu entender, Santa Clara vence o Benfica por 2×3, enquanto que o Porto derrota o rival de Lisboa por 2×0.
Fora do campo, as redes sociais têm feito aumentar a pressão e a ansiedade pelo jogo deste Sábado. Para Luís e Albertino, as publicações são apenas para “alfinetar” um ao outro. As picardias são apenas brincadeira e nunca nenhum deles se sente ofendido e nem chegam a pôr em causa a amizade por causa de comentários. “Somos adultos, com muita maturidade e além de tudo, educadores. Por isso temos que dar o exemplo”, assegura Luis Graça.
O amor pelos clubes não se explica, mas Luis Graça lembra quando e por que motivo começou a torcer pela equipa do Norte de Portugal. “Em criança cheguei a jogar pelo Benfiquinha, um clube que existia na ilha de S. Vicente. No entanto, aos 12 anos passei a ser portista porque fazia-me confusão que o Benfica ganhasse sempre. Mesmo que a minha família seja toda do Benfica”, expõe.
Ritual para assistir os jogos
Albertino Martins prefere assistir os jogos sozinho e longe dos portistas, para não “dar azar” e com o som da TV desligado. Se o Benfica estiver a perder, desliga a televisão e ocupa-se com outras coisas.
Luis também prefere não assistir jogos com familiares, que torcem pelo Benfica, por “pena”, caso a equipa da Luz perder. Mas ambos são adeptos do relato desportivo da rádio. “É como ler um livro, com a rádio crias a imagem das jogadas na cabeça e por isso vives o jogo com outra intensidade”, dizem os dois, destacando o papel dos “grandes profissionais da rádio”.
Paixão por Mindelense, clube que une São Vicente
Picardias à parte, o desporto, aliado às redes sociais e o Adérito Sena, foram os factores que aproximaram ainda mais Graça e Martins, que se conhecem há muito tempo. Os dois dizem ter nascido no seio de famílias que vivem os jogos do Mindelense com bastante entusiasmo. No caso de Graça, cujo pai foi presidente dos “leões” do Mindelo, sente que é o Mindelense que une as pessoas em São Vicente e que o histórico do clube faz a população da ilha aproximar-se mais dos “felinos” da Rua de Praia. No entanto, evita tirar crédito aos outros emblemas. Os dois lamentam, no entanto, o facto de o campeonato nacional não ter o mesmo impacto na vida dos cabo-verdianos, como o português.
Alienados e com mentes colonizadas?
“Não podemos pensar que, com a independência, os valores foram perdidos. Continuamos a torcer por clubes portugueses e isso é algo que encaro com naturalidade”, assegura Luis Graça, para quem o impacto de cada campeonato na vida dos cabo-verdianos deve-se à informação nos media.
Albertino Martins, que é animador de antena na rádio, concorda com as afirmações de Graça. “De manhã, a primeira coisa que faço é abrir sites de desporto português. O mesmo não acontece em relação ao desporto nacional porque não encontro informações dos clubes nacionais diariamente”, lamenta Martins.
Este lembra que há poucos anos o Mindelense venceu um campeonato nacional e tentou fazer uma reportagem da festa dos adeptos em São Vicente, ouvindo a população. No entanto, ao chegar à sede do clube, não encontrou praticamente nenhum movimento.
No tocante ao campeonato luso, os nossos entrevistados defendem que o alcance da vitória dos clubes tende a influenciar o comportamento dos adeptos. Por isso, para amanhã, esperam que haja fair play, que seja um jogo íntegro, sem erros de arbitragem e que haja civismo nos festejos nas ruas de Morada. No entanto, Albertino não esconde que já se prepara para o banho de mangueira.
Sidneia Newton (Estagiária)