Comunidade cabo-verdiana marca presença de forma ativa no Carnaval de Florença

O carnaval na Itália é uma festa muito antiga, celebrada em quase todas as cidades italianas. Os mais conhecidos, a nível internacional, são o de Veneza, e Viareggio. Essas duas cidades gozam de uma fama que ultrapassa as fronteiras nacionais e com uma forte atração turística. A de Veneza se distingue pelos lindos trajes típicos da época, inspirados no vestuário do século XVIII, e pelas lindas máscaras tradicionais produzidas, graças à fantasia, imaginação e a criatividade dos artesãos. A comunidade cabo-verdiana marca presença de forma muito ativa nesta festa.

Por: Maria de Lourdes Jesus

Espetacular são os gigantescos carros alegóricos do carnaval de Viareggio, que desafiam as leis da física pela sua dimensão e movimentos, criando um espetáculo extraordinário. Divertimento garantido num contexto de variedades de cores, músicas, batucadas, danças desenfreadas num palco de diversão, euforia e loucura carateriza os dias do carnaval no mundo inteiro.

Se antigamente o Carnaval significava celebrar a vida e a alegria antes do período penitencial da Quaresma, hoje representa também uma oportunidade de encenar e representar a sociedade, os seus valores, as suas contradições e os seus desafios através de máscaras satíricas de representações de figuras da política italiana e também das pessoas famosas a nível internacional.

Passamos agora no ambiente carnavalesco da comunidade cabo-verdiana em algumas cidades italianas, que sempre festejam essa data. Começou nos anos 1970 com a nossa saudosa Lalaxe, no Centro Tra-Noi, Hernani Moreira da associação cabo-verdiana em Roma, e muitas outras cidades, organizado pelas associações. Mas é a comunidade cabo-verdiana na região Toscana, no topo das festas do carnaval nas ruas da bela e antiga cidade de Florença.

Para conhecer melhor a história desse carnaval, interpelamos o poeta, escritor e músico, Hipolito Daniel Soares, que vive nesta cidade desde a década de 1980 e foi um dos fundadores da Associação cabo-verdiana em Florença Província.

Maria de Lourdes Jesus – Descreva-nos o Carnaval de Florença?

Hipólito Daniel Soares – O carnaval multicultural em Florença teve o seu início em 2009. Na altura, a Câmara de Florença era guiada por Leonardo Domenici que quis que tal iniciativa cultural tivesse lugar com o nome de “Carnevale Fiorentino nel Mondo”. Sou cofundador da Associação “Capoverdenonsolo” que, encorajada pelo seu presidente/fundador Antonio Danise, participou pela primeira vez e com grande entusiasmo. Foi grandiosa porque participaram 26 comunidades estrangeiras residentes em Florença: asiáticos, africanos, América do Sul e do norte e europeus.

– Em que ano a associação de Florença iniciou a organizar o carnaval? 

Depois de alguns anos, a iniciativa de dar continuidade ao carnaval, foi relançada por dois quarteirões de Florença: o de Isolotto e o de Novoli que têm vindo todos os anos a organizar o “Carnaval della Pace” com várias comunidades estrangeiras residentes em Toscana.

Sob a direção da Associação Cabo-verdiana em Florença retomamos a rédea do carnaval com maior experiência e entusiasmo da nossa comunidade. Para além de músicas e trajes carnavalescos, um tema ligado à cultura e às tradições de Cabo Verde. Participam no nosso carnaval cabo-verdianos de todas as idades.

– Como estão organizados? Quem é o vosso patrocinador?

No desfile a comunidade participa com grupos organizados em grupos de Mandinga, de batucada e de dança pelas ruas. As roupas são feitas por costureiras de boa vontade. Os ensaios obrigatórios estão a cargo de Mónica do Monte e de Danilson da Cruz; a regia musical está a cargo de Funa da Luz, responsável pela área da cultura no seio da Associação cabo-verdiana.

O carnaval é auto-financiado pela comunidade em que cada participante contribui com uma quota para cobrir as despesas. Por fim, a supervisão de toda a atividade está sob o controlo de Pedro Oliveira e de Luisa Duarte, Manuel Alexandre Monteiro e Paulo Filipe Ramos, ativistas de vanguarda. A música é rigorosamente dos grupos carnavalescos já exibidos em S. Nicolau e S. Vicente.

– Os participantes são exclusivamente da região Toscana?

Até o ano passado, no desfile, os figurantes eram pessoas residentes em Toscana, mas este ano, pela primeira vez, um grupo de cabo-verdianos de Bolonha e também de Roma como participantes no desfile a engrandecer o nosso carnaval. Sinal que para os próximos anos irão tomar parte no desfile, a nossa comunidade de outras cidades italianas.

No desfile os homens também participam: quer na dança, quer na batucada e quer na preparação da sala, na construção dos andores; as mulheres costuram as roupas, preparam os enfeites, participam quase em tudo no que diz respeito à organização para o desfile. A festa termina na sala da “Casa del Popolo”, com toda a comunidade e amigos italianos e estrangeiros.

– A comunidade de Florença está satisfeita? E os autóctones?

Digo que sim porque a gente encontra pessoas de todas as idades que, em geral, raramente saem de casa. O Carnaval é uma ocasião importante para o encontro entre os nossos patrícios. A sala onde terminamos a festa está cada vez mais cheia. Já não cabe toda essa multidão que vai aumentando cada ano. É uma grande satisfação. Cada ano vejo uma certa melhoria e uma tomada de consciência por parte da comunidade perante este evento sempre a ganhar visibilidade também no seio da sociedade florentina. Naturalmente, o objetivo principal da comunidade cabo-verdiana é a difusão da cultura e da identidade cabo-verdiana na cidade de Florença. Queira a Deus que para o ano que vem será o de um carnaval ainda mais alargado e abrangente!

Muito obrigada Hipólito. “O Carnaval para a Paz” deste ano foi sem dúvida um grande sucesso. A comunidade da região Toscana está de parabéns e sobretudo a associação cabo-verdiana de Florença e Provincia.

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