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É de Mindelo um herói italiano da Segunda Guerra Mundial

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A comunidade cabo-verdiana de Génova, a associação Ítalo-cabo-verdiana e a Associação Nacional Partigiani de Itália (A.N.P.I) assinalam esta quinta-feira, 25 de abril, os 80 anos da morte de Nicolau do Rosário, com a colocação de uma coroa de louros na placa dedicada a este mindelense, que emigrou para aquele país e teve um papel decisivo na luta contra o Nazi-fascismo. Apelidado de “O homem que veio do mar”, Nicolau do Rosário é um herói da Segunda Guerra Mundial em Itália. 

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Por: Maria de Lourdes de Jesus

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Quis o destino que a parábola do valoroso partigiano Nicolau do Rosario, natural de S. Vicente, concluísse nas vésperas do fim da Segunda Guerra Mundial, na luta contra os nazi-fascistas que ocuparam a cidade de Génova.

Segundo o escritor Bruno Garaventa, as condições em que os guerrilheiros SAP, Equipas de Ação Patriótica) combatiam foram realmente muito duras. Em 1945, a cidade de Génova foi quase destruída por bombardeamentos navais e aéreos, e a zona portuária também se encontrava nas mesmas condições. Devido a  destruição de casas, de serviços comuns, a escassez de água e alimentos, grande parte da população fugiu para o interior das regiões da Ligúria e do Piemonte.

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Descrição da morte de um herói

No dia 24 de Abril de 1945, os combates ocorreram em vários pontos da cidade de Gênova, num conflito insurrecional em frente ao Hospital Galiera. No confronto com o inimigo, num combate corpo a corpo com um soldado alemão, Nicolau foi ferido por um golpe de baioneta. Apesar do ferimento, grave, manteve-se na liderança de um grupo de partigaini e não hesitou em lançar-se contra uma posição inimiga, equipada com metralhadora. Nicolau foi atingido mortalmente por uma rajada de metralhadora. Com o seu exemplo heroico, ofereceu a sua vida para uma Itália Livre e Democrática.

Quem foi Nicolau do Rosário?

Excepto a dinâmica da luta contra os alemães e a sua morte heróica, sabemos muito pouco sobre a sua vida como cidadão cabo-verdiano que chegou a Génova, a sua profissão e o contexto onde viveu em Génova. Sabemos apenas que Nicolau do Rosário foi um homem de grande coragem que deu a vida pela liberdade e pela democracia, lutando contra Hitler e Mussolini na cidade de Génova.

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No seu bilhete de identidade consta a data de nascimento em Mindelo – S. Vicente, Rua Conselheiro Sampaio a 3 de Novembro de 1894, filho de Antónia Arcângela do Rosário, e residente em Génova, na Via delle Benardine, 21/2. E está sepultado no Pirenne Campo, reservado aos Partigini que lutaram pela Liberdade, dentro do Cemitério Staglieno, em Genova.

Hipóteses sobre a presença de Nicolau do Rosário em Génova

No livro de Garaventa encontramos uma suposição do embaixador cabo verdiano Manuel Amante da Rosa. O diplomata levanta a hipótese de que Nicolau chegou a Génova num navio que transportava cereais da Argentina ou do Uruguai, e que passou em Cabo Verde com destino a Génova, onde Nicolau desembarcou e fixou a sua morada.

Grandeza de Nicolau do Rosario

Nicolau deveria ser um militar de nível superior à média pelas seguintes razões: em primeiro lugar, morava na Via Bernardini, 21/2, num bairro habitado por ricos genoveses. Deveria dominar muito bem a língua italiana com um vocabulário muito rico e com uma certa autoridade, visto ter que emitir ordens e as ordens deveriam ser cumpridas. O que nos deixa surpreendido é que essas ordens foram por um homem que não era italiano e ainda por cima preto, no ano de 1945. Ele foi sem dúvida um homem íntegro, de grande valor e grandes ideais, que amou a liberdade, a democracia e sobretudo a cidade de Génova, pela qual estava pronto a morrer.

Quem descobriu Nicolau do Rosário

Em 2015, Silvio d’Anna, notou uma placa (quase ilegível) colocada na fachada do hospital Galliera, onde trabalha. Silvio d’Anna informa-se através da A.N.P.I e contacta o escritor Bruno Garaventa e Sandra Andrade, da associação ítalo-capo-verdiana de Génova. Sandra envolveu o embaixador Manuel Amante da Rosa, que estabeleceu e manteve contactos com Silvio D’Anna, o escritor Bruno Garavanta, da associação Partigiani e Sandra Andrade.

No mesmo ano, o Embaixador Manuel Amante da Rosa encomenda Silvio d’Anna de renovar a placa em nome de Nicolau do Rosário. No dia 21 de Abril a placa foi colocada pelo Embaixador, através de uma cerimónia que contou com a presença de A.N.P I, Bruno Garaventa, comunidade cabo-verdiana de Génova e Sandra Andrade, presidente da associação cabo-verdiana.

Em 2018, Bruno Garaventa publicou o livro “História de um homem que veio do mar”, dedicado aos partigiani onde Nicolau do Rosario é um dos protagonistas. Alguns meses depois, na Embaixada de Cabo Verde, Bruno Garaventa foi agraciado pelo então Presidente da República de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, com a Medalha de Mérito de Primeira Classe, em memória do Partigiano Nicolau.

25 de Abril, Festa da Libertação do Nazifascimo

É assinalado o dia da libertação de Portugal do fascismo e da Itália dos nazi-fascistas. Na Itália, as comemorações foram num clima político incandescente e devisivo entre o governo de direita, a oposição, sindicados, A.N.P.I e a sociedade civil italiana, acompanhado de manifestação em todo o pais em defesa da Constituição italiana, contestando o governo de direita, mas sobretudo o Primeiro-ministro, Giorgia Meloni, que nunca se declarou antifascista.

Nesse contesto político de alta tensão, a nossa comunidade de Génova, a associação Italo-cabo-verdiana, representada por Sandra Andrade e A.N.P.I, organizaram a comemoração dos 80 anos da morte de Nicolau do Rosário. Nesse dia foi colocado uma coroa de louro debaixo da placa dedicada a Nicolau do Rosario, onde o escritor Bruno Garaventa efetuou uma bela intervenção para recordar o valoroso partigiano, na história da libertação da Itália, conseguida também “ao homem que veio do mar”, Nicolau do Rosário.

*Partigiani: Homens que lutaram nas montanhas da Ligúria, Piemonte e outras regiões italianas.

Fonte: Bruno Garaventa: escritor e investigador da história dos partigiani e autor do livro “História de um homem que veio do mar.”

Silvio D’Anna, Sandra Andrade.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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